segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Auto-retrato de Van Gogh, mais ou menos

 This is not true, but it is very easy to do.


imagem criada com Inteligência Artificial, em Craiyon

Se eu escrevesse que foi encontrada uma nova obra de Vincent van Gogh, um auto-retrato absolutamente extraordinário, que representava uma evolução desconhecida na sua maneira de pintar, já que alongava os traços e lhes dada a aparência de circuitos de computador e apresentasse esta imagem do quadro, acreditaria? Ou colocaria a possibilidade de não ser verdade, de ser um exagero, de não ter percebido bem, ou outras?

E se eu escrevesse que a obra foi avaliada em 80 milhões de dólares e que pertence a um colecionador que quer manter-se incógnito, mas está vendedor. Ficaria tentado a partilhar, pelo sim, pelo não? Os fãs de van Gogh haveriam de ficar encantados.

E, se em vez de ser eu a escrever, fosse uma entidade que se apresentava como uma empresa, com um ar super sofisticado, um site impecável e um bot do mais simpático que há. Podia parecer possível?

E se fosse publicado nas redes sociais, se tornasse viral e, depois, fosse noticiado nos grandes canais internacionais e nacionais. Acreditava? 

E, indepentemente da resposta ser sim, ou não, com que fundamento? 

Admitindo que não é altamente especializado em arte e, mais concretamente, em Vincent van Gogh, que é uma pessoa normal que gosta muito deste pintor, teria um grande desejo de que aparecessem coisas novas dele, certo? O que talvez desse uma predisposição a acreditar em novas obras que aparecem, situação rara, mas não inédita. 

Também poderia saber que pintou quadros bastante diferentes, então porque não poderia ter pintado mais um diferente? 

E quanto tempo e estudo dedicaria à questão, para formar uma opinião com fundamento sólido? Horas, dias, semanas, meses? 

Todas estas questões são pertinentes e, à medida que a Inteligência Artificial Generativa se desenvolve e é gratuitamente acessível a todos os que tenham um computador ou smartphone com acesso à internet, tornam-se mais pertinentes ainda.

Distinguir a verdade da mentira pode, até de um ponto de vista filosófico, da neurociência, da linguística, do direito, de outras áreas do saber, ser considerada uma impossibilidade, de acordo com os critérios que estiverem em causa. No entanto, para uma pessoa comum, a verdade corresponde à realidade e a mentira é uma falsidade.

Acontece que estamos a começar a ficar para além desse ponto. 

A imagem apresentada neste post foi feita por mim, dando instruções (prompts) a uma ferramenta de Inteligência Artificial, denominada Craiyon, acima identificada e com o respetivo link inserido, disponibilizada gratuitamente na internet.

Qualquer pessoa a poderia ter feito. 

Eventualmente, até o próprio Vincent van Gogh, no seu tempo e pelo seu pincel.

Qualquer pessoa pode pintar, desenhar, fotografar o que quiser, limitando-se a dar instruções de texto a dizer o que pretende.

Fica demonstrado que realidade e invenção, verdade e mentira, estão mais difíceis de distinguir e que atualmente, com a ferramenta de inteligência artificial apropriada a imaginação humana se expande de um modo incrível e impensado até à pouco, fora do campo da ficção científica.

  

 



 

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