sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A utopia do (necessário) controlo


O ser humano, ou pelo menos, o ser humano digital com acesso à internet, que vão sendo quase todos, pode subscrever online as Universal Guidelines for Artificial Inteligence, propostas por The Public Voice.

Este documento resulta da preocupação com os efeitos que a Inteligência Artificial (IA) tem e terá na vida das pessoas e das sociedades e pretende estabelecer mínimos que garantam o controlo do humano sobre a “máquina”.

A IA foi desenvolvida com excelentes propósitos, para efeitos vários, com resultados já impressionantes. A dada altura, o Homem ensinou-a, ou melhor, programou-a para aprender consigo própria e, demonstrando o quão inteligente é, tem aprendido imenso. 

A questão é se não andará a aprender demais e não sairá do controlo dos “pais”. Gente que sabe do que fala, como Stephen Hawking que na Web Summit do ano passado e em livro agora lançado Breves Respostas para Grandes Questões, ou Elon Musk (que tem literalmente as mãos na massa), têm feito avisos estrondosos, aptos a serem virais e a abrir noticiários.

A IA pode destruir a humanidade, dominá-la ou assim. Parece mesmo provável que o faça. No entanto, entretanto, vai ter benefícios extraordinários.

Já é costume com descobertas, invenções e desenvolvimentos.

Descobriu-se a pólvora, como é frequente por acidente e, como também é frequente na China. Foi no século I e aconteceu a alquimistas que procuravam, como sempre é procurado, o exilir da longa vida. As primeiras referências terão surgido em textos de alquimia, com avisos de não misturar certos materiais com outros. Wikipédia dixit.

Nobel inventou a dinamite, com excelentes propósitos de aplicação na engenharia civil, nomeadamente na fase inicial da construção de pontes e canais. Deu no que deu, o que originou o Prémio para incentivo de descobertas boas.

Einstein esteve na base do desenvolvimento da energia nuclear, com excelentes propósitos e o resultado que se viu e, felizmente e com desmesurado e permanente esforço do Homem, não tem dado em mais.

Nada leva a crer que com a Inteligência Artificial seja diferente.

A questão não está no que se descobre ou inventa que, por si só será em princípio neutro, mas na utilização que se lhe dá. Os humanos não se têm revelado muito sábios neste aspeto. 

Vamos ver, quer queiramos, quer não, como a IA se sairá.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Moralidade humana? Perguntem à AI


Entenderam os humanos que haviam de ter carros que os dispensassem da condução, para se dedicarem a outras tarefas mais prazenteiras. Esses carros teriam de tomar decisões e, pensou-se, essas decisões (poder)iam assentar em moralidade. Precisamente na moralidade humana. Era, pois, coisa para envolver a Moral, que a própria humanidade desde que o é não sabe o que é, nem consegue devidamente distinguir da Ética, da Religião, da Justiça, do Direito.

Para se obviar a essa questão cientistas resolveram fazer uma experiência, em curso desde 2014, cujos resultados foram publicados na revista Nature e agora divulgados.

Para se aferir a moralidade da humanidade ao volante, através da estatística, um método tão bom como qualquer outro, foi colocado um pequeno questionário online. É sabido, sem serem necessárias sequer estatísticas, que a humanidade adora questionários.

Então, incrivelmente, 40 milhões de pessoas, de 213 países sentiram-se suficientemente seguras e certas para responderem a perguntas sobre quem, em alternativa, matariam se fossem ao volante. No conforto do seu telemóvel escolheram entre velhinhos e jovens, homens e mulheres, ricos e pobres, pessoas e animais, muitos ou um só. Enfim, fizeram a prova avançada dos testes psicotécnicos, em versão simplificada. Não parece que se tenham incluído padres, doentes terminais, mulheres grávidas e outras categorias problemáticas.

Ora, por alturas de 2014, em que o volume de big data já era considerável, foi ultrapassada uma fronteira arriscada. Os computadores, que neste âmbito passaram a denominar-se Inteligência Artificial, começaram a aprender consigo próprios (deep learning), à imagem do cérebro humano em redes neurais. Desde aí até agora, desenvolveram-se extraordinariamente a Internet das Coisas, a DLT, as redes sociais, os embriões de cyborgs, a capacidade de analisar a sempre crescente big data.

Não seria, pois, mais eficaz perguntar à Inteligência Artificial qual é a moralidade da humanidade ao volante? Se o Senhor AI ainda não sabe, vai-se informar num instante.