sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Uma AI de si próprio

Construir uma Inteligência Artificial (AI – Artificial Intelligence) que replica melhoradamente a pessoa, que se relaciona com outros e com o seu próprio original é, no mínimo, estranho e, claro, está a acontecer.
A AI Foundation está a desenvolver um projeto que vai permitir a cada pessoa ter uma espécie de clone de si, em modo digital, interativo e, por isso, evolutivo.
A experiência vai começar com Deepak Chopra, autor de 73 livros, guru de medicina alternativa e meditação, que aceitou ser a cobaia. No inicio de 2020 haverá uma versão dele em AI, sob a forma de uma app. Pode-se ver a apresentação, de Deepak Chopra AI, por si próprio(a) aqui.
Cada interessado descarrega a app, conversa com Deepak AI, explica os seus problemas, ansiedades e aspirações e recebe uma resposta, meditações à medida e conselhos certamente muito bons. Na vez seguinte é tudo parecido, mas melhor, já que a AI aprendeu com a interação anterior, incorporou os novos dados e ajustou a “medicação”. E assim sucessivamente, no caminho do que parece poderá vir a ser uma simbiose bastante intensa.
A pergunta que aqui formulo, guardando todas as outras infinitas que me ocorrem, é a seguinte: admitindo que não é possível (ainda) incorporar no Deepak biológico o que o Deepak AI digital vai estar permanentemente a aprender com centenas, milhares, milhões de utilizadores, em que momento a AI vai ser muitíssimo mais capaz que o original? Uma hora depois, um dia depois, mais tempo depois? E, quando se comparar o Deepak AI com o biológico, alguém preferirá o biológico? Boa sorte Deepak. Sugiro que descarregue a sua app de AI para se ir ajudando durante a experiência.
Vamos esperar para ver. Em 2020 já deve haver dados reais para serem avaliados e estudados. 

domingo, 17 de novembro de 2019

Linearmente – ainda é nisto que estamos


O nosso raciocínio é linear. Pensamos uma coisa a seguir à outra e queremos acreditar, ou cremos, que as coisas se passam do modo como as conseguimos pensar. Quando se tornam muito complexas, procuramos chegar lá por partes. Analisamos um bocadinho, depois outro, como num puzzle duma paisagem, isto é mar, isto é sol, isto é céu, isto não sei, fica de parte. Fazemos montinhos com o critério do que nos parece a caraterística principal. Verde, árvores. Azul com ondulação, mar. Azul com nuvens, céu. Depois, nos montinhos, vamos tentando encaixar. Ficamos com várias ilhas, usamos a intuição, que mais não é que experiência de que não tomámos consciência e, com uma grande dose de sorte, completamos o puzzle. Não é por acaso que são também chamados quebra-cabeças. Alguns, mais prudentes, temendo não voltar a conseguir terminar a tarefa se a repetissem, colam tudo e mandam emoldurar.
Na história é o mesmo. Éramos macacos, começámos a andar em pé, opusemos o polegar ao indicador e aos outros dedos, inventámos, ou lá o que foi o fogo, cozinhámos comida, acumulámos energia facilmente e desatámos a pensar. Quando demos por nós estávamos a escrever, fizemos e desfizemos reinos e impérios pelas razões clássicas da ganância, desigualdade e curso normal das coisas Inventámos a eletricidade e a máquina a vapor. Na política inventámos, ou lá o que foi, a liberdade, a fraternidade e a igualdade a par da guilhotina, uma sem a outra não resultava. Dizimámos a América quando lá chegámos com as doenças que levávamos. Inventámos modo de acabar com a fome e vendemos aos pobres sementes estéreis. Descobrimos a energia nuclear e, de uma assentada, demos cabo de duas cidades e quase do mundo. Damos cabo do planeta, metódica e sistematicamente, com a alegria do consumo que atenua a depressão do capitalismo que perpetua. Fomos à Lua, descobrimos o espaço, voltamos a pensar em colonização, pela razão clássica de que já destruímos tudo em que tocámos e precisamos de mais para arruinar. Ao lado, damos boas razões para fazermos as coisas. Os selvagens precisam de ser salvos, a energia nuclear é limpa, a liberdade é o valor que estamos a defender quando espiamos e perseguimos e prendemos e torturamos e matamos e invadimos e dizimamos. As coisas seguem-se umas às outras, de preferência numa simpática sucessão de causa/efeito que as legitima, se dúvidas houvesse. Foi torturado e confessou tudo, na Inquisição e na atualidade. Tudo coisas, umas coisas a seguir às outras, arrumadinhas, alinhadas, lineares. Como o nosso pensamento.
O problema é quando o mundo se torna complexo. Não complexo, como que coisa tão complicada, não estou a perceber bem, mas efetivamente complexo. De uma complexidade tal que por mais montinhos que façamos o puzzle se mostra infinito e impossível de resolver. É nisto que estamos. É aqui que entra a inteligência artificial. É aqui que, de pensarmos, passamos a ser pensados. É aqui que algo que não faríamos em milhões de anos é feito em segundos. É aqui que um cérebro artificial, alimentado pelos nossos limitados cérebros humanos que, de todas as formas possíveis, lhe fornecem a informação de que necessita para funcionar, trabalha. Não vamos dizer que pensa, que isso é considerado ofensivo. Que funciona. É aqui que estamos. Noutro dia veremos para onde vamos.

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Sabedorias várias


Há os visionários. Em princípio, artistas. Escritores, cineastas, pintores e artistas de outras artes. Sabem o que ainda não há.
Há os especialistas. Em princípio, cientistas, filósofos e quejandos. Sabem muito bem o que há.
Há os curiosos. Em princípio, inteligentes que questionam sobre a razão das coisas, procuram respostas, encontram novas perguntas, relacionam tudo. Sabem interligar e imaginar.
Há as pessoas comuns. Em princípio, um protótipo de ser humano médio. Sabem o que é preciso.
Há as pessoas comuns de um determinado tempo e lugar. Em princípio, um standard mais concreto, com contornos mais precisos pela proximidade. Sabem as suas coisas.
Há os espertos. Em princípio, os que se safam, aproveitando os espaços entre as gotas da chuva. Sabem ver.
Há os que sabem que sabem tudo. Em princípio, os mais alegres. Sabem aproveitar.
Há os que não sabem, nem querem saber. Em princípio, os mais conformados. Sabem existir.
Há os que sabem que nada sabem e que é impossível saber. Em princípio, simplesmente sabem.
Depois, há a inteligência artificial. Em princípio, sabe tudo e mais alguma coisa, mas ainda não sabe que sabe.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Harvard is mapping AI sets of principles – 32 so far


A map for comparison between AI sets of Principles is the new and amazing work presented by The Berkman Klein Center for Internet & Society at Harvard University. 

terça-feira, 18 de junho de 2019

Corrida ao ouro – AI race



Do quase nada ao mais que tudo num instante.

A inteligência artificial, AI para familiares, amigos e conhecidos, que vão usando a sigla inglesa correspondente a Artificial Intelligence ao jeito de nickname, passou de ficção cientifica a ciência e vai a caminho do soundbite, com a rapidez que a carateriza.

Está-se numa espécie de corrida ao ouro, com cães-lobos no Alasca, como o Buck de Jack London, mas em que o bem precioso que se persegue é a AI. Isto porque a inteligência humana depressa percebeu que a inteligência artificial lhe dá super-poderes e está com todo o vigor a fazê-la saltar dos livros de ficção científica para a realidade.

O momento de viragem foi a eficácia do machine learning, em que a máquina aprende “sozinha”, desenvolvendo camadas e ligações na sua rede neural ou neuronal. Esta aprendizagem pode ser feita com outra(s) máquina(s), sendo essencialmente feita através dos ensinamentos da humanidade em geral, pedagógica por instinto ou natureza. Todos nós, que usamos smartphones e vários dispositivos digitais ensinámos o Google a falar e a traduzir, o Facebook a compreender relações humanas, a Amazon a saber o que compramos e vamos a cada momento mapeando o mundo com fotos, opiniões sobre comida e lazer, informação sobre o que consumimos, onde vamos, o que pensamos. A AI põe-se a registar e a pensar sobre tudo isso e aprende. Depois, interage com outras AI’s e aprende ainda mais.

Chegámos agora, cerca de cinco anos após os primeiros sinais significativos, ao ponto em que começamos a achar que estamos a perder o controlo. É nesta altura que chegam as normas. É curioso que as primeiras sejam as chamadas “leis de Azimov”, um escritor que se preocupou em estabelecer regras básicas intransponíveis para os robots que inventou.

Atualmente prolifera a preocupação e a criação de regras. Diz Yochai Benkler de Harvard, que sabe do que fala, que “Technology companies are running a campaign to bend research and regulation for their benefit; society must fight back”, acrescentando Edd Gent que “There’s no better way of ensuring you win a race than by setting the rules yourself.”. 

Enquanto a AI não se adiantar numa self-regulation ainda imprevisível e pouco provável, vamos viver tempos de corrida contra o tempo a tentar contê-la e a disciplinar quem a domina.

terça-feira, 21 de maio de 2019

O cérebro da Gulbenkian


Cérebros e robôs”, um dos encontros de mentes diversas, nos diálogos do cérebro que fazem parte da programação complementar da exposição “Cérebro – mais vasto que o céu”, apresentada na Gulbenkian até dia 10 de Junho, levou ao palco do auditório 2 um cientista e um artista. Já não era a primeira vez e, de novo, se percebeu que tanta criatividade provinha de mentes que tinham na curiosidade e na ideia de que os limites existiam para serem forçados alguma semelhança.
O cientista explicou um projeto em que os robôs aprendem uns com os outros, através do movimento. O artista explicou que é o agente de robôs-autores que pintam quadros movendo-se numa tela com canetas.
O artista insistiu em que o interessante era os robôs fazerem o que queriam e não o que queremos. Considera isso positivo, já que o ser humano, como modelo, poderá não ser grande coisa.
O cientista exultou com os progressos dos seus robôs com forma e face crescentemente humanas que, muitos anos depois, caminhavam paulatinamente para a idade de dois anos.
Muito refrescante. Muito emocionante. Grande Gulbenkian, obrigado.

sábado, 6 de abril de 2019

Centauro alado


Depois da vitória no xadrez de Deep Blue, o computador, sobre Garry Kasparov, o humano campeão mundial desse jogo, a humanidade sentiu-se ligeiramente ultrajada.

Alguns resolveram não acreditar, o que é sempre um bom princípio, outros deitaram as mãos à cabeça que continha o cérebro e terão exclamado "Meu Deus, onde é que isto vai parar" e outros disseram que afinal era só um jogo de xadrez, brincadeira de crianças, se fosse um jogo a sério, outro galo cantaria. As pessoas quando ficam espantadas têm uma certa tendência para recorrer a Deus e aos provérbios, já que ambos contém acumulada sabedoria de muito tempo, o que ajuda a pensar o impensável.

A ocorrência da vitória dos bites deu-se em 1997, ainda o milénio não tinha sido dobrado. Vivia-se nessa altura numa saudável eminência do fim do mundo no ano 2000, há muito prevista. Nada que tivesse o atual fundamento já que há 20 anos ainda não era tão evidente até que ponto estávamos a dar cabo do planeta. Por essa altura, acresceu uma, à data moderna, previsão dum simultâneo fim do mundo, por razões de ordem tecnológica relativas à alegada incapacidade dos computadores então existentes, se acertarem com o número 2000 a indicar o ano. Felizmente, ao soarem as doze badaladas e ao surgir 00:00 nos relógios digitais nada aconteceu de mais especial, que o início de um ano novo. A não concretização do fim do mundo nessa data deu oportunidade à humanidade para se continuar a dedicar pessoalmente ao tema com o sucesso que cheias, secas, incêndios, tornados e outros fenómenos meteorológicos extremos demonstram.

A propósito da competição histórica entre Deep Blue e Kasparov, em 29 de julho de 1997, o The New York Times publicava: ''It may be a hundred years before a computer beats humans at Go - maybe even longer,'' said Dr. Piet Hut, an astrophysicist at the Institute for Advanced Study in Princeton, N.J., and a fan of the game. '.

Demorou um bocadinho menos. Em 2016 um computador venceu o campeão mundial de Go. O homem do Go, em termos gerais, não era muito diferente do homem do Xadrez. Ambos, aliás, não eram muito diferentes do homem que descobriu o fogo ou a roda. A evolução da espécie humana é bastante lenta e, em milhões de anos pouco mais conseguiu que começar a perder os dentes do siso. O computador, pelo contrário, evoluir extraordinariamente. Passou de máquina programada pelo homem a máquina que, depois disso, consegue aprender sozinha. De soma e processamento de quantidades enormes de dados, no caso do xadrez de jogadas registadas, passou a inventar novas jogadas que não se conheciam. Passado algum tempo nisto, venceu no Go.

Após a experiência que causou embaraço à espécie humana, criaram-se equipas de centauros, compostas por humanos e AI (Artificial Inteligence). Parece que uns e outros cometem erros de natureza diferente, por isso a colaboração poderá ser, além de inevitável, frutuosa.

A figura do centauro para representar esta nova simbiose mostra que constelações, mitos e clássicos continuam tão aptos como sempre estiveram para integrar o novo. Acrescentar à equação Pégaso dar-lhe-ia asas. O que faria de cabeça/cérebro num cavalo/homem/alado fica em aberto. Os deuses devem estar a tratar do assunto, com a eficácia que têm demonstrado.

terça-feira, 12 de março de 2019

As grandes coisas nascem sempre pequenas



“Suppose all the information stored on computers everywhere were linked. Suppose I could program my computer to create a space in which everything could be linked to everything.”. 

Isto, à partida só um “suponhamos”, é o que imaginou, em 1989, Tim Berners-Lee, inventor da World Wide Web, para resolver um problema de partilha de informação entre cientistas. 
Tinha um chefe que respondeu “Vague but exciting.” à sua proposta e o autorizou a desenvolver um modesto modelo para os físicos nucleares do laboratório da Suíça. Em 1991, a rede expandiu-se para servidores externos e o mundo mudou.
Foi há 30 anos, no CERN, merece hoje um doodle da Google, uma das mais importantes distinções da atualidade pesquisável e conectada, garantia de divulgação por milhões, biliões ou sabe-se lá quem mais.
A Web (com a internet iniciada nos anos 60) é a base dos fenómenos de digitalização atuais, assentes na recolha, partilha e tratamento de informação, num crescendo de smart que poderá, em vários pontos, tornar-se rapidamente num too smart. É o pressuposto de funcionamento da maioria das sociedades e da criação de novas sociedades digitais que vivem precisamente nas “redes sociais”. Está subjacente à inteligência artificial que nos vai, de facto, governando.
As grandes coisas, como as grandes pessoas, nascem sempre pequenas.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

2060 AI vs Humans result: AI 1 - Humans 0


A 2017 survey of more than 350 AI researchers predicts AI could be a better driver than humans within ten years. By the middle of the century, AI will be able to write a best-selling novel, and a few years later, it will be better than humans at surgery. By the year 2060, AI may do everything better than us.here.