quarta-feira, 31 de março de 2021

BPM e a frequência da terra

 

“BPM” são batidas por minuto, unidade de medida no coração e na música. É também o título do novo álbum que Salvador Sobral está a lançar. Ontem, numa entrevista, o autor explicava que quando fez um transplante de coração e estava no hospital, tinha sempre o batimento cardíaco monitorizado, identificado no ecrã por BPM. Como batidas por minuto é também a medida da música, no tempo que ali passou, esse elo dava-lhe sentido e alento.

Parece que a terra também tem o seu “batimento” que, na frequência 7.83 Hz, poderá coincidir com ondas do cérebro humano, influenciando-o.

A possibilidade de existir um ritmo comum, subjacente a tudo, é uma questão, no mínimo, emocionante.

sábado, 27 de março de 2021

O miolo da noz


Os bons livros de ficção contêm em si sínteses extraordinárias, difíceis de encontrar noutros recipientes, com a exceção, normalmente menos bela, dos provérbios populares. 

Deparei-me agora com uma pequena pilha de livros que foram saindo das prateleiras por alguma razão e foram ficando empilhados numa desarrumada arrumação durante muito tempo. Peguei neles e ia distribuí-los pelas respetivas secções a que pertencem, seguindo o critério relativamente vago e muito flexível das minhas estantes.

A questão é que quando isso acontece, isto é, quando pego em livros que li há muito tempo, com a intenção de os transportar de um sítio para outro, dificilmente resisto à tentação de os abrir ao acaso, passando os olhos por alguns parágrafos. O que se lhe segue é ser invadida pelo espanto, encher-me de um “como é que é possível pensar/escrever/sintetizar tão bem?”, enquanto me encosto ou sento onde estiver, esquecida do que ia fazer.

Acabou de acontecer, com a agravante de que havia uma página com um canto dobrado, que me propus reconduzir ao estado direito, enquanto pensava se seria um esquecimento de marcação dum tempo em que os marcadores oficiais eram raros, ou se estaria a assinalar algo notável.

Fiquei imediatamente esclarecida ao encontrar o seguinte: 

"Não posso resumir em meia dúzia de frases o que levou séculos a acontecer. No entanto, como o miolo de uma noz e a semente de um fruto, exprimem o esforço de toda a árvore, a essência da vida, talvez consiga… Pensa nisto: mandei as minhas três filhas para muito longe do nosso país porque previ a concatenação de acontecimentos que redundariam em catástrofe para o nosso povo. Desejava que vocês sobrevivessem.
- Que acontecimentos?
Madame Liang pôs o cigarro no cinzeiro, para poder contar pelos dedos. Começou pelo pequenino da mão esquerda e foi até ao polegar:”.

Em Pearl S. Buck, As Três Filhas da Senhora Liang, Colecção Dois Mundos, Edição «Livros do Brasil» Lisboa, Rua dos Caetanos 22,1969, p.63. Diz também “Venda interdita nos Estados Unidos do Brasil”.


quinta-feira, 25 de março de 2021

Leitura de pensamentos – novo avanço tecnológico

Todos os dias, literalmente todos os dias, eventualmente várias vezes, cai mais um bastião daquilo que mantinha o ser humano único, autónomo, no controlo de si próprio e da realidade que o rodeia, excluindo naturalmente catástrofes ou outros acontecimentos imprevisíveis e intrinsecamente incontroláveis.

Um estudo realizado na Queen Mary University de Londes, publicado no Plos One, em 3 de fevereiro de 2021, divulga o trabalho de cientistas que propõem uma nova maneira de detetar emoções através de “wireless signals”, mais concretamente ondas de rádio.

É muito útil, porque permite identificar emoções lendo diretamente os pensamentos, o que serve para vários fins de que se destacam a deteção de discrepâncias entre o que se diz e o que se pensa.

Em 1949, foi publicado Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, de George Orwell, que já continha o essencial sobre o assunto de um ponto de vista macro e político. Não há muito a acrescentar. A aplicação do conceito aos vários contextos em que o ser ainda humano se move, social, familiar, religioso, laboral, judicial, e todos os outros em que possamos pensar, é por si só a evidência do que está em causa. Quando à pergunta “Achas que esta roupa me fica bem?”, seja dada a simples e educada resposta esperada “Fica ótima.”, várias crises se perspetivam oriundas da leitura do pensamento que se conteve. Se as perguntas forem feitas em contexto judicial, o problema pode ser mais grave ou, pelo menos de consequências diferentes. No campo religioso, dado que Deus já possui essa faculdade, as questões ficam circunscritas ao terreno. Noutros campos, outras consequências ocorrerão.

A comunicação direta entre cérebros, no que poderá ser denominado Internet of Brains (IoT), já causava perplexidade bastante, como pode ser lido aqui, mas parecia implicar ainda algum controlo sobre o pensamento que se transmitia.

Neste artigo do The Machine, podem ler-se outras aplicações ou variações nesta temática, nomeadamente no que diz respeito aos Brain Computer Interfaces (BCI), que podem ser externos sob a forma de uma espécie de capacetes e que permitem coisas tão fúteis como corridas de drones diretamente comandados pelo pensamento, ou tão extraordinárias como a possibilidade de alguém privado da fala poder simplesmente pensar nas palavras que quereria dizer, sendo estas proferidas por um dispositivo criado para o efeito.

Estes BCI também podem ser internos, sob a forma de implantes no cérebro, coisa que Elon Musk, na Neuralink, uma das suas várias bilionárias empresas está a desenvolver, com o objetivo de possibilitar que o pensamento humano possa ser aumentado e minimamente competitivo com a inteligência artificial. O que, julga-se, será acessível a quem o possa pagar.

Enfim, tudo isto existe, tudo isto não sei se é triste, e tudo isto aparenta ser fado. Vamos ver no que dá, quer queiramos, quer não.