quarta-feira, 31 de maio de 2017

Quem mais precisa, mais paga



Pagar de acordo com a disponibilidade ou, sejamos realistas, a debilidade de cada um é uma nova moda.

O fenómeno poderá ser considerado uma versão revista e renovada da lei da oferta e da procura, ou um novo paradigma de ajustamento de preços de acordo com a necessidade e a disponibilidade efetivas de cliente e prestador/vendedor, ou uma inevitabilidade da vida como ela é, enfim, o que é que se há de fazer, ou o mercado a funcionar em liberdade em que cada um propõe e aceita o que, sempre em consciência, por vezes mesmo em omnisciência, entende propor ou aceitar, ou pode ser simplesmente um aproveitamento inadmissível de uma evidente debilidade.

A polémica volta a propósito da Uber, que tem mais novidades no seu sistema de tarifação, mas é extrapolável para outros negócios e empresas. 

Curiosamente, o novo modo de tarifação recentemente implementado pela Uber consegue irritar especialmente os motoristas, que consideram que o acréscimo pago pelos clientes não reverte a favor deles, mas da empresa. No entanto, tudo assenta no acréscimo pago pelos clientes.

Informa a Bloomberg que "The new fare system is called “route-based pricing,” and it charges customers based on what it predicts they’re willing to pay.". O que, trocando por miúdos, significa que vai ser cobrado o que se sabe que o cliente estará disposto a pagar. Isto é, o mesmo serviço terá um preço diferente, em função do que se prevê venha a ser a aceitação pelo cliente do valor proposto. 

Para saber isto é necessário ter dados objetivos, como por exemplo, numa deslocação de uma zona remediada para um restaurante de luxo, poderá ser cobrado um valor superior à de um percurso idêntico que termine numa tasca. 

Para saber melhor isto é necessário ter dados sobre os clientes ou, pelo menos, sobre padrões de clientes. O que resulta em informações tão úteis como a de que pessoas com pouca bateria no telemóvel têm uma elevada propensão para aceitar preços elevados.

A cada um, consoante a necessidade, mas ao contrário.









sexta-feira, 26 de maio de 2017

Fusão de Realidades


O futuro vai passar pela fusão de realidades.

Já conhecemos a Realidade Aumentada (AR), que coloca letreiros virtuais que vemos no telemóvel na rua em que estamos a andar, e que também nos permite caçar Pokemons.

Já lidamos com a Realidade Virtual (VR), quando em museus ou feiras colocamos uma espécie de óculos de mergulho que nos permitem andar em montanhas russas que não existem, circular em edifícios que não foram construídos e, aos aprendizes de médicos, treinar cirurgias.

Realidade Aumentada e Realidade Virtual vão fundir-se num futuro, que ameaça ser próximo, num interface de computador que ainda não tem nome, mas poderá vir a chamar-se computador imersivo.

A Realidade Real (?), Física (?) vai estar algures.

Quem explica melhor o incompreensível e impossível é quem está a criá-lo. A Singularity Hub conta que "In a blog post before the conference, head of Google VR Clay Bavor mused on how the two relate. He suggested AR and VR are points on a spectrum between the real and digital worlds. On one end, it’s all real, on the other it’s all virtual. And in between, it’s both.".

Parece que iremos passar muito tempo a viver in between. Seja lá onde isso for realmente.


terça-feira, 23 de maio de 2017

Uma brecha no contrato social


No início deste mês, o jornal “The Australian” descobriu um documento preparado pelo Facebook, que revelava que a empresa tinha oferecido aos seus anunciantes a possibilidade de atingirem diretamente, com publicidade, 6.4 milhões de usuários mais jovens (a partir de 14 anos, em média 16 anos), nos momentos em que se sentissem mais vulneráveis, nomeadamente, inseguros, ansiosos, fracassados.

O Facebook não negou o documento, não tinha como, mas respondeu ao lado e informou também que a investigação não tinha seguido os padrões da empresa.

A notícia é dada pela perspetiva da publicidade, da possibilidade de apresentar para venda, no preciso momento em que a necessidade existe, o produto ou serviço adequado a um grupo especialmente vulnerável. O que é muito importante.

É, talvez, mais importante ainda perceber que o Facebook, outras redes sociais, o Google e, se quisermos mesmo pensar em grande, todos juntos, não só sabem tudo sobre o utilizador, como sabem tudo ao segundo, e com um nível de detalhe e profundidade que nem o próprio conseguiria consciencializar.

Isto, ao que parece, já influenciou o Brexit e eleições várias, umas mais badaladas que outras.

Todos os dias, isto, influencia milhões de pequenas decisões que cada um de nós toma.

O que vale é que o Facebook disse que, embora não tenha feito o que dizem que fez, não torna a fazer. Às outras empresas semelhantes, ninguém perguntou neste artigo mas, caso perguntassem diriam em uníssono que não, que não voltariam a fazer o que não fizeram. Diriam, também todas que iriam criar procedimentos e controlos, que seriam implementados e verificados por comissões e comités de modo a que não, realmente não, voltasse a acontecer nada semelhante.

Eu, por mim, fiquei satisfeita. Eu acredito no Pai Natal, na Fada dos Dentes e no Coelho da Páscoa. Em duendes, também.

sábado, 20 de maio de 2017

PAI - Partnership on AI


Não querendo ser mais alarmista, os produtores de robots e AI andam a juntar-se para nos salvar, precisamente, dos robots e da AI.
The Partnership on AI, criada em setembro de 2016, teve como membros fundadores Google, Facebook, Amazon, IBM e Microsoft. Meses depois, juntou-se a Apple.
Em 16 de maio, juntaram-se ao grupo organizações como  Future of Humanity InstituteFuture of Privacy ForumHuman Rights Watch e a UNICEF.
Parece ser uma coisa boa. “Murray Shanahan, a professor of cognitive robotics at Imperial College London and a DeepMind employee, endorsed the formation of the Partnership last September, saying: "A small number of large corporations are today the powerhouses behind the development of sophisticated artificial intelligence. The inauguration of the Partnership on AI is a very welcome step towards ensuring this technology is used wisely."”.
Com a nova expansão e, principalmente, a natureza de muitos dos 22 novos membros, parece que o homem poderá ter-se disposto a tomar as rédeas da AI, assim ela deixe por o freio.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Os robots são nossos amigos?


Não querendo ser alarmista, Stephen Hawking, em dezembro de 2014, informou o mundo em geral de que a inteligência artificial (AI) podia acabar com a humanidade. A informação teve a atenção que merecia, em alguns minutos de soundbite digital e, mesmo, televisivo, a que se seguiram provavelmente notícias de algum tiroteio, festival, futebol na televisão e cães, gatos ou outros animais fofinhos na net.
Em 2015, Elon Musk e Bill Gates juntaram-se ao cientista, no aviso em relação à inteligência artificial.
Em janeiro de 2017, Hawking e Musk uniram esforços para, com proeminentes investigadores, apoiarem o desenvolvimento de princípios para proteger a humanidade de máquinas, potencialmente “guerreiras”. Foi, por essa altura, publicada pelo Future of Life Institute (FLI) uma carta aberta em que se esboçaram 23 princípios para garantir que o desenvolvimento da inteligência artificial é benéfico para a humanidade.
Em maio de 2017, Elon Musk, fortemente empenhado em salvar o mundo, atuando em várias áreas distintas, está atualmente numa cruzada de mil milhões de dólares no campo da AI. Parece, que a AI da Google assume com alguma preponderância um papel de vilão.
Open AI, é uma startup de Musk que desenvolveu um novo algoritmo que permitiu uma aprendizagem básica, que esperam venha a evoluir para aprendizagem complexa, num possível início de solução que passa por treinar ou ensinar robots através de realidade virtual (VR) .
Até ver, é isto.

terça-feira, 16 de maio de 2017

Células comandadas por smartphone


O primeiro passo é o treino. Primeiro treinam-se as células do paciente para reconhecerem inimigos.
O segundo passo é o implante. As células modificadas são implantadas onde são necessárias.
Até aqui, pela descrição, parece tudo fácil.
A questão estava em ativar oportunamente as células e parece estar em vias de ser ultrapassada, usando luz e smartphone.
Nas experiências realizadas, foram incorporadas nas células modificadas pequenas luzes LED dentro de um hidrogel e transplantadas sob a pele de ratos diabéticos. O sistema inteiro foi controlado com um aplicativo Android personalizado, que liga remotamente os LEDs implantados que, com base no nível de circulação de açúcar no sangue, ativa células que produzem insulina.
Pronto, ao que parece é isto. Com desenho e tudo. Está a ser e vai ser mais, muito proximamente.
Espanto e assombro é o que sentimos, nós ainda comuns mortais e leigos.
Não se esqueça do telemóvel. Nunca se esqueça do telemóvel. Pelo menos, até o aparelho ser implantado em si.

manteiga ou arte



Manchas no ecrã do telemóvel também são arte.

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Big brother is earing you



Centenas de aplicações móveis (apps) ouvem os sinais (beacons) emitidos por dispositivos integrados em vários locais ou objetos e permitem seguir (ultrasonic beacon tracking) a pessoa que leva o telemóvel, é notícia que não chegou ao grande público.

É mais uma novidade na invasão da privacidade que a evolução da tecnologia permite, que se percebe bem num estudo sobre o assunto divulgado no fim de abril, numa Conferência em Paris.

Ao descarregar uma aplicação são pedidas ao futuro utilizador uma série de permissões que, teoricamente e se o mundo fosse perfeito, teriam como único objetivo que a ferramenta funcionasse e os acessos seriam limitados ao estritamente necessário a esse funcionamento.

Dada a permissão, muitas vezes sem se aperceber que a dá e, menos ainda, o que a mesma significa, o utilizador instala a app e o smartphone passa a receber os sinais que são emitidos pelos beacons, o que permite seguir os passos de quem o transporta, determinar as suas preferências, recolher muitos dados pessoais. 

A permissão pode ser dada sem consciência do ato e/ou das consequências, ou porque a pessoa precisa realmente da aplicação e essa é condição para a ter.

Os cientistas que apresentaram o seu trabalho, encontraram beacons na entrada de lojas de rua, detetaram 234 vulgares apps para Android que incorporavam um tipo particular de tecnologia de escuta ultra-sónica (ultrasonic listening technology) e desenvolveram uma "contra-tecnologia" de proteção, que bloqueia a receção dos sinais. 

Qualquer dia, ou qualquer ano, quando o problema já for outro, vai-se saber.

Ouvir às portas era má educação. Ouvir as portas também será? Big brother is earing you.