domingo, 27 de dezembro de 2020

O que escreveríamos se escrevêssemos?

Escrever é procurar descobrir o que escreveríamos se escrevêssemos.

Esta frase maravilhosa é de Marguerite Duras.

Exprime exatamente o que sinto ao escrever. Os grandes escritores, como Duras, são assim. Exprimem exatamente coisas.

A escrita, além de não ser evitável, consiste numa curiosidade. Precisamos de ver como sai aquilo que somos forçados a expressar e, por essa curiosidade, escreve-se para ver o que seria se fosse. Quando já é, pouco interessa.

A frase de Marguerite surge citada por Irene Vallejo no Prólogo do seu novo livro, onde explica sobre o que escreveu, porque e como o fez, e desabafa a sua luta, parte da eterna luta com a página em branco, a luta de fazer do material história, de ficção ou não, pouco importa.  

O livro de Irene tem o título original “El infinito en un junco. La invención de los libros en el mundo antíguo”, traduzido para português como “O infinito num junco. A invenção do livro na Antiguidade e o nascer da sede de leitura”, título mais explicativo talvez para o leitor português não ter dúvidas sobre ao que vai, logo desde a capa. É uma edição da Bertrand de outubro de 2020, com reimpressão em dezembro de 2020. Dele diz Mário Vargas Llosa “Uma obra-prima”, por isso para quê acrescentar o que quer que seja. É ler-se.

A capa da Bertrand tem uma sobrecapa de metade do tamanho onde, além da apreciação de Llosa, são expressas outras apreciações muito importantes de pessoas e jornais e a informação de que é um “Fenómeno de vendas em Espanha – O livro mais lido do confinamento!”, com ponto de exclamação.

Quanto às vendas, nada a apontar, simplesmente a acrescentar que os factos – edição e reimpressão em dois meses – indicam que Portugal repetirá o fenómeno, com grande benefício dos leitores.  

Quanto à frase exclamativa, sugere-me uma interrogativa: Como é que a Bertrand sabe? Comprar não é ler. Terá sido feito um inquérito aos compradores, e aos felizes contemplados com o presente, sobre se o tinham lido? Terá sido o Facebook (proprietário do Instagram, do Whatsapp e etc) que naturalmente tudo sabe e isto também, já que as pessoas postam, mostram, comentam, gostam, falam. Terá sido a assistente pessoal do Google ou de qualquer outro, o Zoom ou outra plataforma de comunicação online? Terão sido todos juntos, extraindo a informação da imensidão da big data, usando potentíssimos sistemas de inteligência artificial que, se não sabem, inferem? Ou terá sido simplesmente uma liberdade criativa da editora?

Irene escreveu procurando descobrir o que escreveria se escrevesse. Saiu, como diz Alberto Manguel “Uma homenagem ao livro, de uma leitora apaixonada”.

Os livros, os bons livros, garantem o infinito em cada lugar.

sábado, 12 de dezembro de 2020

Big Tech and AI research - big troubles?

"The trouble is, there aren’t many alternative venues in AI that can fund accountability-focused research. Because of the massive computational costs associated with building out AI models, much of the major work in the field gets concentrated in the hands of a small number of companies and universities that can afford it.".
Nicolás Rivero, in Quartz, here .

domingo, 8 de novembro de 2020

Contrato do Utilizador, ou lá o que é

imagem da net - NYT

Hoje tive uma surpresa quase-contratual muito instrutiva. 

No âmbito do desenvolvimento da minha exigente relação com o telemóvel que comprámos há relativamente pouco tempo resolvi, não me lembro porquê, ler aquilo a que o próprio chama “Contrato do Utilizador”.

Embora este seja um assunto extremamente sério que me deveria levar compenetradamente a enunciar mais uma vez a necessidade de as pessoas serem devidamente protegidas, com um resultado semelhante ao dos que ainda há mais tempo alertam para as catastróficas consequências das alterações climáticas. Isto é, “basicopraticamente”, como tão bem escreveu António Lobo Antunes numa crónica, nenhum.

O que lá encontrei, no entanto, abriu um parênteses nessa epopeia e proporcionou-me dois momentos de grande divertimento, pese embora o utilizador seja claramente eu.

Começo pelo segundo, que consta do ponto 14. que me informa que “Este Contrato é assinado no distrito de Haidian, Pequim.”, embora não entre em pormenores sobre os temas: assinado? Por quem?, o que me dá margem para pensar que um representante da empresa se sentou a assinar um contrato no distrito de Haidian. No mesmo ponto 14. sou descansada com os seguintes dizeres “A interpretação, a eficácia e a resolução de disputas são aplicáveis às leis da República Popular da China. Na ausência de disposições legais relevantes, é feita referência às práticas comerciais e/ou práticas comerciais internacionais.”. Ainda bem que li, porque fiquei devidamente esclarecida sobre uma série de coisas, embora não saiba bem quais.

O segundo assunto, que já não me diz diretamente respeito, consta do ponto 12. e tem a ver com a “Utilização por menores de idade”. Aí, depois da conversa habitual sobre a vigilância parental vem um sub-ponto com a seguinte maravilha: “Um menor de idade deve respeitar a Convenção Nacional Chinesa de Comportamento na Internet para Adolescentes: (1) utilizar a Internet para aprender e evitar informações destrutivas; (2) ser honesto e amigável na comunicação, e não para insultar ou ofender os outros; (3) aumentar a consciência do autocuidado e evitar o encontro com desconhecidos online; (4) manter a segurança da rede e não perturbar a ordem da rede; e (5) manter a saúde física e mental e não desenvolver o vício no ciberespaço.”.

O que tenho a dizer em relação a isto é que acho muitíssimo bem e que fico muito mais descansada por saber que os adolescentes, menores de 18 anos, que têm um telefone da marca do meu e, atrever-me-ia a admitir que de muitas outras marcas, são obrigados a respeitar aquelas regras ou outras igualmente boas. E mais, utilizando o telefone sempre sobre a atenta vigilância dos seus parentes, como naturalmente acontece, principalmente na faixa etária 12-18, a obrigação deve estender-se a esses mesmos parentes e aos outros, bem como aos amigos, para ninguém ser desencaminhado.

Como tudo está bem quando acaba bem, saí rapidamente daquele sítio perigoso online para evitar informações destrutivas e, não tendo procedido à destruição do aparelho como o mais elementar bom senso determinava, continuei a usar, como toda a gente, o relativamente pouco smart phone



domingo, 11 de outubro de 2020

Smartphone – ser (humano) usado pelo telefone

imagem da net

Tenho um telemóvel novo, o que é extremamente desagradável. Esta inevitabilidade ocorreu pelas razões normais da obsolescência programada que, no meu caso, é vencida em alguns anos já que me é indiferente perder funções. No limite gostaria mesmo de perder o próprio telefone e manter-me num nível de desconexão e ausência de estímulo não escolhido nem desejado, que são a base da liberdade e da criatividade. Para continuar a manter-me refém uso os argumentos do costume, todos válidos. A vida, atualmente, pressupõe conexão e, não a tendo, implica exclusão. O que, contas feitas, significa escolher entre ser ermita em autossuficiência num campo, sem internet, ou viver e trabalhar em sítios com internet tornando-se, neste caso, a conexão inevitável.

Há algumas situações intermédias em que pessoas cheias de valor tentam fugir ao mainstream e usar coisas alternativas, menos invasivas e dominadoras, normalmente mais caras e a exigir um elevado nível de conhecimento informático. É, por exemplo, o interessante caso de Julia Angwin que em 2014 - imagine-se! – escreveu no New York Times um artigo com o título “Has Privacy Become a Luxury Good?”, disponível aquiLogo no início afirmava “LAST year, I spent more than $2,200 and countless hours trying to protect my privacy.”. A experiência decorreu, portanto, em 2013, completamente na pré-história da atualidade, já que foi mais ou menos por essa altura que se deu a explosão do machine learning, logo seguida da explosão do deep learning (aprendizagem mecânica usando redes neuronais artificiais, do inglês ANN para Artificial Neural Nets). O que significa que se situação semelhante ocorresse agora, tudo indica que o preço e o tempo aumentariam e os resultados piorariam.

Realizar esta experiência, por falta de dinheiro e/ou conhecimentos, não está ao alcance dos comuns mortais. Esta expressão vai progressivamente caindo em desuso, pelo menos para os muito ricos, na proporção da sua conquista da imortalidade, tanto física – ainda a alguma distância – como digital, esta já uma realidade corrente em várias formas, de que se destaca o exemplo mediático de Deepak Chopra, famoso guru que ajuda a humanidade, agora também através da uma inteligência artificial de si próprio, já que aceitou ser cobaia na experiência da AI Foundation (mais detalhe aqui).  

Sucede, então, que o meu novo telefone é incomparavelmente mais irritante que o anterior, por variadíssimas razões, de que se destacam duas.

A primeira é-lhe alheia e tem a ver com tudo o que se perde quando se muda de dispositivo, principalmente porque em vez de o que temos estar guardado num sítio qualquer, está guardado noutro sítio qualquer. Claro que sobrolhos se franzem neste momento, pensando “Santa ignorância, porque é que não tem tudo sincronizado e/ou guardado numa nuvem desta vida e da outra, sempre disponível?!”. Têm toda a razão já que se assim o fizesse, à partida, não teria problema. E convenhamos que tanto o sr. Google, como o sr. Alibaba e outros senhores do ocidente, do oriente e do meio, saberiam de qualquer modo o mesmo, isto é, tudo e também mais alguma coisa. Resisto, no entanto, para meu óbvio mal.

A segunda é o facto de a Inteligência Artificial que tem, ser muito esperta para umas coisas que lhe interessam e extremamente estúpida para outras que me podem interessar a mim. Por exemplo, é exímia a detetar movimento e ao menor toque no telemóvel parece Natal, com luz a acender-se e, neste caso, também com notificações e emails a chegarem freneticamente nesse instante, o que só pode ser uma coincidência. Em contrapartida, é de uma exasperante burrice na escrita, insistindo em corrigir e acrescentar o que estava certo e completo e, com a sua intervenção, fica errado e disparatado. Sei que isto lhe vai passar à medida que eu, com uma paciência que não tenho e estando condenada a ensinar-lhe, for explicando como se faz.

É nesta atividade pedagógica que a humanidade tem estado. Esforçada, exasperada por vezes, obedecendo a ordens “Agora diz: faz uma chamada para a Maria”, repetindo, voltando a repetir mais devagarinho, apagando e reescrevendo. Principalmente gravando tudo, vídeos, imagens, só voz, reuniões, paisagens, viagens, videochamadas pessoais e profissionais, dados biométricos, os do sono, os do fitness, as impressões digitais e a iris que já desbloqueiam dispositivos perfeitamente normais e correntes, e etc, até ao infinito e mais além.

Há algum tempo que se me vai avolumando a convicção de que vai deixando de ser a pessoa a usar o telemóvel, passando a ser o telemóvel a usar a pessoa. O smartphone vai passando de uma extensão do humano que o detém, para um situação em que se integra com a pessoa numa simbiose crescentemente intensa, caminhando-se paulatinamente para a situação em que o dispositivo, carregado de internet e inteligência artificial, usa a pessoa para que lhe mostre tudo o que precisa de saber e ver. Literalmente ver. CV, antes indubitavelmente Curriculum Vitae do latim, é hoje pacificamente Computer Vision do inglês.  

Máquinas aumentadas com pessoas, e não o contrário, parece-me ser onde estamos e para onde vamos, com uma convicção de inevitabilidade. “Vemos, ouvimos e lemos” e devemos ignorar. 

Tem de ser e eles é que sabem.


terça-feira, 28 de julho de 2020

A sabedoria e o cone da ignorância



A vontade de emitir opiniões tem-me vindo a diminuir. Atualmente tende para o zero.

O momento próprio para dar opiniões é a adolescência, altura em que somos suficientemente ignorantes para as ter em abundância e sem grandes reticências e sabemos exatamente para onde mudar o mundo, o que é um descanso.

Um pouco mais tarde, em jovens, já começamos a ter algumas dúvidas, mas a pujança intelectual e física, o impulso imparável da energia que acumulamos, leva-nos a desconsiderá-las e a avançar para concretizar ideias novas e de grande fôlego. 

Novas, na medida em que é possível ter ideias novas, que é quase nenhuma. Desde as sociedades mais antigas, passando por Roma e pela Grécia Clássica, sábios de proveniências várias, religiosos e leigos, afirmam com propriedade que já tudo foi dito e feito sobre tudo. O que significa que, normalmente, uma ideia nova é nova para quem a tem, por desconhecimento de que já havia sido tida. O que não tira mérito nenhum, antes pelo contrário, já que ter ideias excelentes por si próprio, idênticas às que alguém brilhante já teve algures no tempo, é maravilhoso.

Mais tarde, é costume enveredarmos por uma profissão ou área e especializarmo-nos. Não tem de ser necessariamente especialização intelectual ou científica, pode ser na agricultura, na indústria, nos serviços. Pode, também, ser na própria opinião, seja em humanidades, com recurso a muita cultura geral e estudo específico de alguma matéria, seja em ciências naturais, engenharia ou outras. Pode, numa derivação, ser no jornalismo, que recolhe e trabalha factos e opiniões. Nessa especialização, ficamos reféns do afunilamento a que nos sujeitamos que nos aporta algum saber e a consequente prudência ao enunciá-lo, pela consciência de que qualquer afirmação contém em si a necessidade de colocar balizas, reservas e exceções. 

Quanto ao resto mantemo-nos essencialmente ignorantes, numa espécie de adolescência perpétua, que nos permite ter opiniões descontraídas sobre quase tudo. A maioria de nós sem qualquer consciência disso, com a enorme vantagem da satisfação de se dizer o que se pensa, como se isso fosse em si coisa boa. Pode ser bom quando a opinião é escrita e quem a escreve pensa bem e sabe usar a pena, ou quando é verbal e quem a diz pensa bem e sabe usar a palavra. Em ambos os casos tudo assenta muito na qualidade da retórica. Quando a opinião é de um político é só isso, a opinião de um político. Pode ser aquela ou qualquer outra e terá os defeitos e as qualidades inerentes à forma como é expressa.

A propensão para a opinião, principalmente convicta e com certeza, existe na razão inversa da consciência da nossa desmesurada ignorância. “Só sei que nada sei”, como terá dito Sócrates, após uma vida de sabedoria, pela qual escolheu morrer. 

Estudar alguma coisa abre horizontes e faz-nos ver, enquanto aprendemos, o que não estamos a aprender. É como um túnel em forma de cone, que se alarga à medida que caminhamos numa linha que, na melhor das hipóteses, poderá engrossar ligeiramente.

Não me parece que seja por, eventual e inevitavelmente, poder ter adquirido algum saber que a vontade de opinar se me está a congelar. Tenho de sobra a quantidade de ignorância necessária para poder escrever ou dizer várias coisas sobre várias coisas que basicamente desconheço.

Temo que seja por intuir que há presentemente opinião em excesso e, nesse caso, podemos ao menos poupar o universo à minha. Com resultado semelhante a deixar de usar palhinhas de plástico para evitar que apareçam no nariz duma tartaruga nas redes sociais, enquanto observo a ilha de plástico no Pacífico Norte que tem uma dimensão superior à superfície conjunta da França, Espanha e Alemanha ou as crianças a correr sobre as águas de rios pobres tão cobertos de lixo que lhes permitem a proeza.

domingo, 19 de julho de 2020

A quadratura do círculo pela União Europeia



A União Europeia tem uma habilidade assinalável para fazer a quadratura do círculo.

São muitos anos de experiência, desde 1957, primeiro a seis, depois a oito, a nove, a doze - em 1986, altura em que se concretizou a adesão de Portugal e Espanha à então CEE - continuando a crescer até aos vinte e oito Estados-membros, atualmente 27 com a saída do Reino Unido. Ao aumento da abrangência é inerente o aumento da diversidade e a dificuldade de obter consensos e, mais ainda, regras que os consagrem e operacionalizem nos diversos territórios.

A coesão europeia, a existência de uma mancha geográfica com alguma dimensão e um mercado significativo, foram fulcrais nos anos após a Segunda Grande Guerra. Permitiram dar sequência, na realidade, à paz alcançada no terreno e criar condições para a recuperação económica que a poderia sustentar. Unidos passaram a Guerra Fria, várias crises de várias naturezas e, atualmente, procuram enfrentar a que parece estar e vir a ser a crise das crises, originada pela Pandemia de Covid-19.

Há que realçar que a União Europeia é uma espécie de milagre político e económico que merece admiração, reconhecimento pelos esforços permanentemente em curso e pelos resultados que se vão alcançando. 

Muitas vezes, tal parece ser possível, mais pelo efeito dissuasor do argumento catastrófico, que pela vontade de a manter. Sente-se uma espécie de condenação a conservar o conjunto, porque sozinhos os países ficariam mais pobres, mais vulneráveis, menos influentes. Uma Europa unida continua a ser fundamental, mais ainda quando a geopolítica global está a mudar radicalmente. É importante que no Ocidente, um grupo minimamente coordenado de países possa ter condições de contribuir para o precário equilíbrio mundial. Embora a força que julgam ter, com reminiscências da revolução industrial e de impérios perdidos no século XX, os faça sentir mais fortes e importantes do que, restringidos aos seus territórios não coloniais e à sua relativamente limitada tecnologia, realmente são. O que não retira força à necessidade de, mesmo com o não muito que resta, ser mantida alguma relevância no novo mapa-mundo-universo.

Posto isto, constata-se que após rondas intermináveis de negociações é, por vezes, conseguido um ou outro acordo sobre intenções vagas, enunciadas em estratégias, orientações, livros de várias cores, discursos que os anunciam como algo muito importante, já que se pretende invariavelmente o reforço do mercado comum, através da afirmação dos valores europeus, sempre com o respeito pelos direitos fundamentais e a dignidade da pessoa, bem como o crescimento, simultaneamente sustentável e enorme, em livre concorrência. Tudo com uma enorme solidariedade, compreensão e entreajuda. 

Agora estão a negociar pacotes e medidas para o cataclismo viral. Oxalá consigam. Oxalá todos consigamos.

Essencialmente, é isto. Seja qual for o tema em causa, é mais ou menos isto. 


sexta-feira, 17 de julho de 2020

Rights for AI?


“Does AI - and, more specifically, conscious AI - deserve moral rights? In this thought exploration, evolutionary biologist Richard Dawkins, ethics and tech professor Joanna Bryson, philosopher and cognitive scientist Susan Schneider, physicist Max Tegmark, philosopher Peter Singer, and bioethicist Glenn Cohen all weigh in on the question of AI rights.”

From “Latest News from the Petrie-Flom Center” at Harvard Law School: Glenn Cohen - who began serving as a Deputy Dean at Harvard Law School - participated, with some of the best thinkers on AI, in a reflection on “Does conscious AI deserve rights?” (Big Think video here).

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Teach AI the right values



Picking some highlights: 
Many AI decisions are “based on the biases it has learned from us, from the humans”. “We are also reinforcing our bias in how we interact with AI”. For instance,.personal AI voice assistants, like Siri, Alexa, Cortana, are women and designed to be our obedient servants.
We can teach the right values to AI.
“This is our chance to remake the world into a much more equal place.”.

quinta-feira, 4 de junho de 2020

O Monstrengo - das Tormentas à Boa Esperança


"O Monstrengo - das Tormentas à Boa Esperança", artigo de opinião versão online disponível aqui.
Revista Frontline - Ler é Poder, ano 13, junho 2020, pp. 60-61. 

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Há coisas que não podem esperar


Há coisas que não podem esperar, nem em tempo de pandemia global, confinamento generalizado, ligeiro desconfinamento amedrontado.

Há coisas que não podem esperar, nem em tempo de mobilizar Estados inteiros a focar-se no sistema de saúde para salvar vidas, atacadas por um vírus que tem mostrado que sabe matar.

Há coisas que não podem esperar e, por isso, se fazem com toda a urgência, digitalmente como tem de ser para não se contagiar, nem ser contagiado, para não se correr o risco de morrer.

São coisas como a que aconteceu na semana passada em Singapura quando um traficante de droga de 37 anos, condenado à morte, assistiu à leitura da sua sentença, na plataforma Zoom.

Dado que os Tribunais só abririam em junho, fizeram assim. Nesta urgentíssima situação, havia que diligenciar, o que ocorreu, com a evidente vantagem de o futuro morto pelo Estado não correr riscos de contágio da doença Covid-19.

Se a execução fosse realizada através de injeção letal, poderia até ser efetivada enviando-se ao condenado por tráfico de droga, a droga que o matasse, por exemplo através de um drone, que a poderia disparar garantindo as devidas distâncias pandémicas. 

Já tinha, também, acontecido na Nigéria.


quarta-feira, 20 de maio de 2020

A corrida à computação quântica

Stephen Shankland/CNET

O tiro de partida foi dado há algum tempo e a corrida está intensa. A IBM parecia ir à frente, até que a Google acelerou o passo. Amazon e Microsoft também competem.
Nos bastidores verificam-se os arsenais, contam-se armas e munições e treina-se, parecendo que na competição a IBM se adianta por uma cabeça.

domingo, 3 de maio de 2020

Fim da emergência, início da calamidade


Hoje, dia 3 de maio de 2020, é o dia nacional do fim da emergência e do princípio da calamidade.

Uma emergência costuma ser algo que, sendo bem tratado, evita uma calamidade. Não sendo, efetivamente esta sucede-lhe. Dificilmente se poderá avaliar já se aquilo a que chamam calamidade económica e social seria diferente se aquilo a que chamaram emergência médica tivesse sido diferente. O tempo, se o houver, e a História, se for feita, o dirão.

Por agora, sobre o estado das coisas dizem-se terabytes de coisas, como convém à liberdade de expressão. Hoje é, também, Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que é uma coisa diferente, embora esta pressuponha aquela. A liberdade de expressão costuma ter por epicentro o próprio umbigo, a liberdade de imprensa – que impõe interpretação atualista – costuma ter por epicentro outros umbigos. Ambas são cansativas, quer para quem se expressa, quer para os destinatários. Ambas são fundamentais.  

Hoje é, também, Dia da Mãe. O doodle da Google diz “Dia das Mães” e, provavelmente, tem razão.

O princípio da calamidade impõe hoje a proibição de circulação entre conselhos e mantém a proibição de visitas a Lares, com vista a evitar-se o regresso à emergência, previsto quinzenalmente. 

Estas medidas higiénicas zoomizam a maioria dos abraços às progenitoras que, de qualquer modo, já seriam, sensata e calamitosamente, dados com máscaras e evitam que descendentes e ascendentes até ao último grau se coíbam de procurar sanidade física e mental em locais apetecíveis, num dia de verão extemporâneo, como a praia ou o campo do concelho limítrofe, procurando evitar futuros cordões sanitários.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Medir a temperatura à CNPD



A Lei é uma forma de organizar a sociedade. Não é a única e não é a melhor. Convém, no entanto, que seja boa, já que é o que o Estado tem mais à mão para proceder ao estabelecimento de regras, é suscetível de ser conhecida pelos seus destinatários – embora normalmente não o seja – e é suscetível de ser aplicada coercivamente pelas ainda existentes forças no terreno, como polícias e militares.

Nesta vida em tempos de vírus a que temos estado sujeitos é patente que regras razoáveis propiciam boa efetividade e regras desrazoáveis e desproporcionais propiciam reação no povo que, no limite, é quem mais ordena. É, também, o esquecido fundamento de legitimidade da tal Lei, criada pelos seus representantes eleitos precisamente para o fazerem e aplicada pelos executivos com vista ao bem comum. Esta reação, em Portugal, que tem um povo antigo, coeso, sensato, resistente e com uma enorme capacidade de adaptação é claramente visível no confinamento que sabiamente antecipou e no desconfinamento que sabiamente está a antecipar. É também visível na dedicação dos profissionais públicos e privados - e privatizados de serviços essenciais que o Estado foi vendendo ao desbarato a quem paga mais, sem olhar a geografias ou intenções - que fizeram e fazem o possível, muitas vezes parece o impossível, para salvar vidas e manter o país a funcionar.

É neste contexto que surge uma decisão de uma entidade burocrata que tem por função aplicar Lei comunitária, nomeadamente o Regulamento Geral de Proteção de Dados. Este Regulamento é um exemplo exuberante de, como tão bem disse oportunamente Salgueiro Maia a outro propósito, “o estado a que isto chegou”.

Determinou, então, a Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD), através de (des)Orientações que as empresas não podiam recolher informação sobre o dado pessoal sensível de saúde - a temperatura corporal dos seus empregados na volta ao trabalho – exceto se fosse profissional de saúde a fazê-lo. A discussão jurídica do assunto não é para aqui chamada, dizendo-se simplesmente que o Direito contém sempre mecanismos que permitem obstar ao disparate, assim se pretenda.

Quanto às Orientações em causa, saliente-se que as pessoas estão confinadas, não podendo sair de casa para não contaminar os outros há quase dois meses, os trabalhadores cujo trabalho não é realizado através de meios digitais e, por isso, têm de sair para os seus locais de trabalho, vão cumprindo todos os protocolos sanitários, mesmo que invasivos, que lhes permitem realizar as suas funções essenciais, quase toda a vida passou para o digital onde dados pessoais de toda a espécie são em permanência disponibilizados sabe-se lá a quem, a escola de crianças minúsculas é feita em plataformas online por indicação do Estado que também usa drones e outra tecnologia para verificar por onde andam a passear os cidadãos mais rebeldes ou menos resistentes psicologicamente à prisão domiciliária a que estão sujeitos. E etc, etc, etc que todos vemos e vivemos, em Portugal, na Europa e no mundo.

Neste contexto, de calamidade sanitária e económica, em situação absolutamente excecional e impar na História, estando milhares, milhões, biliões de pessoas em risco de vida físico - pelo Covid-19 ou pela fome e outras doenças - e de perderem a vida que tinham, emprego e empresa, casa, subsistência, tudo, estando empresários e trabalhadores a tentar salvar o que for possível, neste contexto, repita-se, vem a CNPD dizer que é proibido aos empregadores medir a temperatura a trabalhadores, de modo a que se estiverem doentes não infetem os colegas e eles próprios se possam proteger e tratar salvo, atente-se na exceção, se for um profissional de saúde a segurar no termómetro. Eventualmente poderiam retirar-se umas dezenas ou centenas destes profissionais das unidades de cuidados intensivos para se dedicarem a esta imprescindível tarefa de proteger o dado de saúde sensível “temperatura corporal”, à porta das fábricas que não fecharam e dos estabelecimentos que ainda não faliram.

Medir a temperatura à CNPD, ato naturalmente praticado por profissional de saúde devida e comprovadamente qualificado para o efeito, pode-se revelar uma medida útil no combate à pandemia.

sábado, 25 de abril de 2020

25 de Abril - "O dia inicial inteiro e limpo"

                                                                                     imagem da net

25 de Abril
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 17 de abril de 2020

História do gato que vive para sempre


O velho que lia romances de amor desde que nasceu, morreu.

Luís Sepúlveda, escritor chileno, por nascimento e devoção, escritor global por exílio e vocação, escritor herói como queremos que sejam, lutando por ideais e pela liberdade, preso e exilado, jornalista e ideólogo, morreu aos setenta anos. Pelas contas de hoje em dia poderia viver, sem grande dificuldade, mais vinte ou trinta anos produzindo a prosa maravilhosa, no duplo sentido de excelente e mágica, que conseguia produzir.

Leu, aos 16 anos, Moby Dick e decidiu que a melhor forma de enunciar o que pretendia dizer era através dos animais. Escreveu bastante, não o bastante, em vários registos, sendo as fábulas um dos que lhe é mais reconhecido. Escrever fábulas tem sido uma forma muito eficaz de sintetizar e permitir visualizar a história e, principalmente, a moral da história. São, também, especialmente aptas à leitura por crianças e jovens, inscrevendo-as na sua educação. Lembramo-nos muito bem das histórias de animais que lemos ou vimos em pequenos, em desenhos animados (era assim que se chamavam antes de se chamarem outras coisas, como filmes de animação). Lembramo-nos das fábulas de Sepúlveda, “História de (…)” contando coisas implausíveis, como a mais conhecida em que um gato ensina uma gaivota a voar. Lembramo-nos, em paralelo, do Triunfo dos Porcos de Orwell e da Montanha da Água Lilás de Pepetela, murros no estômago políticos e económicos, doces e ternos murros no estômago.

Escreveu muitos outros géneros, como romances, contos ficcionais e reais. Escreveu muito sobre política, ideologia, ideais. Principalmente escreveu muitíssimo bem.

Numa pequena peça do Telejornal passaram excertos duma entrevista que deu recentemente em Portugal e, do que disse, duas coisas pareceram-me especialmente lindas. 

Uma é que os escritores têm uma capacidade muito especial, “somos capazes de criar beleza com o que escrevemos”. 

A outra tem a ver com o 25 de abril, a revolução dos cravos em Portugal que inspirou outras, tornou-se na evidência de que era possível derrubar regimes ditatoriais e, no caso, sem banhos de sangue. A notícia chegou aos resistentes da América do Sul, ao escritor, nos seguintes termos “O que se passa é que vocês ganharam em Portugal”. Sentiram que não estavam sós e que era possível ganhar.

É uma imensa pena que um dos que era capaz de criar beleza no mundo não possa continuar a fazê-lo.

As Rosas de Atacama murcharam. Depois lembraram-se de quem é Luís Sepúlveda, endireitaram-se, compuseram as suas pétalas, encontraram na seiva que conseguiam extrair do deserto a força que lhes permitiu mostrarem-se maiores e mais bonitas, como A Morena e a Loira. Contendo heroicamente as lágrimas, com uma dignidade que lhes é intrínseca, respiraram fundo, brilharam, sorriram e olharam para a frente. 

quarta-feira, 25 de março de 2020

Vida humana vs. máquinas inteligentes e COVID-19


Neste tempo suspenso, em que vemos sem compreender, ouvimos sem absorver, pairamos numa estratosfera em que procuramos chegar com os pés ao chão, para os pousar em desinfectante, pomo-nos a pensar em coisas abaixo de básicas e para além de filosóficas, como sejam a obtenção de papel higiénico e os desígnios que Deus(es) e Universo terão para esta forma de vida, biológica, por natureza frágil, eventualmente única, no infinito e mais além.
O problema do papel higiénico foi ultrapassado pela constatação de que vai sendo reposto nas prateleiras das lojas, o mesmo acontecendo com bens essenciais e supérfluos, pelo menos até ver. A questão da claustrofobia foi acomodada com umas escapadelas a essas mesmas lojas ou o ensaio de uns passos de corrida à volta do prédio, envergando o equipamento devido para que não haja dúvidas de que o cidadão ou a cidadã em exercício, se encontra no exercício do estreito direito ao passeio higiénico. O cidadão ou cidadã, na volta a casa, é imediatamente higienizado com desinfectante no hall de entrada e depois higieniza-se com água e sabão na casa de banho. São procedimentos morosos e meticulosos, que se efectivam com a diligência devida. A questão do distanciamento social físico, ultrapassa-se pela proximidade social digital, ficando os confinados, para além do teletrabalho e da tele-escola, horas infindas online em tele/vídeo-chamadas, salas de reunião, salas de estar, ginásios, aulas de culinária e coisas várias, redes sociais, grupos para isto e para aquilo, num convívio frenético no ciberespaço, que preenche totalmente todos os minutos do dia. Esta realidade ocorre, tanto porque os confinados pretendem comunicar com os que estão distantes, como porque pretendem escapar daqueles com quem calhou estarem confinados. Exceto os que estão sozinhos, a quem se aplica só a necessidade de se relacionarem com outros seres humanos.
A par desta higienização ubíqua e desta desenfreada aproximação digital originada pelo obrigatório distanciamento social físico e confinamento residencial, há a permanente avalanche de informação catastrófica, de calamidade passada, presente e prevista para o futuro, que nos soterra, tolhe e deixa absolutamente perplexos.
Escusado será dizer que não sobra muito tempo, nem paciência, para pensar nas coisas para além de filosóficas. Mesmo assim, tem-me ocorrido que este COVID-19 e a reacção global que tem desencadeado vem, em pequenos apontamentos que passam despercebidos, colocar em evidência a fragilidade humana, biológica, individual e física versus a invencibilidade das máquinas, artificial, global e digital.
Para quem anda embrenhado nestas coisas da tecnologia, da Inteligência Artificial, da vigilância, do desgaste do Estado de Direito e da Democracia, da produção, partilha e utilização de dados pessoais e sensíveis, dum mais próximo ou mais distante momento de Singularidade, dependente do desenvolvimento de uma Inteligência Artificial Geral, olha para o que se está a passar com o COVID-19 com enorme perplexidade, como todos os outros. Só que, num cantinho desse espanto, salta à vista a extrema vulnerabilidade do ser humano individualmente considerado e da humanidade no seu conjunto, por ser vida biológica e natural, em contraposição à resistência e alcance das máquinas, por serem matéria não-biológica e artificial. Noutro cantinho desse espanto, vislumbra-se uma aceleração, complexificação e globalização do que já estava extrema, crescente e intensamente acelerado e globalizado, assente em tecnologia, digitalização e inteligência artificial. A corrida passa a ter a velocidade de um sprint. Não tendo as máquinas necessidade de comer e dormir, de socializar, não tendo cansaço, a meta parece estar mais próxima, mais depressa.
Fechando os parênteses do cantinho do espanto, vou voltar à perplexidade permanente, vendo as notícias da calamidade presente e futura que tolhe e esmaga.

domingo, 8 de março de 2020

Predictions – from Delphi Oracle to GPT-2 AI

Humans just love predictions. From Delphi Oracle, a women with power, to GPT-2, an AI created by OpenAI, they ask for it.
The Economist interviewed GPT-2, a neural network for natural language processing, about the future and Singularity Hub presented it here.
“What’s past is prologue.”, in Shakespeare’s "The Tempest", is a beautiful summary of the classic method, alleging that we can look to what has already happened as an indication of what will happen next.
GPT-2 when asked if it had any advice for readers replied “The big projects that you think are impossible today are actually possible in the near future.”. 
For now, it sounds like a La Palice’s true. Probably the point will be the word “near”. How near? 

sexta-feira, 6 de março de 2020

Augmented Machines with humans?

Internet image (article also about this issue here)

“For a Bright Future of Work, We Must Get Better at Collaborating With Machines” is the title of a Peter H. Diamandis’s article, recently published in the Singularity Hub, here.
“Productivity is the main reason companies want to automate workforces. Yet, time and again, the largest increases in productivity don’t result from replacing humans with machines, but rather from augmenting machines with humans. It’s all about collaboration.”, he claims.
Collaboration is frequently the key. What surprised me was who must collaborate with whom. Not machines helping humans, or humans using better machines, but augmented machines with humans.
Heavy food for thoughts.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Supremacia Quântica - Milhares de anos em segundos


Um artigo de opinião de minha autoria, sobre supremacia quântica, foi publicado na edição de fevereiro da Revista Frontline - Ler é Poder, pp. 40-41, acessível também aqui.

O by the way é o anuncio de que a Google, em resultado de uma parceria com a NASA e o laboratório americano ORNL, havia alcançado a supremacia quântica. Este anúncio vem cerca de um ano após divulgação pela IBM de significativos desenvolvimentos no seu computador quântico, registado com informação e espanto estético neste blog aqui.

Edição de fevereiro da revista Frontline - Ler é Poder, com reprodução digital da revista impressa, disponível aqui.