terça-feira, 28 de julho de 2020

A sabedoria e o cone da ignorância



A vontade de emitir opiniões tem-me vindo a diminuir. Atualmente tende para o zero.

O momento próprio para dar opiniões é a adolescência, altura em que somos suficientemente ignorantes para as ter em abundância e sem grandes reticências e sabemos exatamente para onde mudar o mundo, o que é um descanso.

Um pouco mais tarde, em jovens, já começamos a ter algumas dúvidas, mas a pujança intelectual e física, o impulso imparável da energia que acumulamos, leva-nos a desconsiderá-las e a avançar para concretizar ideias novas e de grande fôlego. 

Novas, na medida em que é possível ter ideias novas, que é quase nenhuma. Desde as sociedades mais antigas, passando por Roma e pela Grécia Clássica, sábios de proveniências várias, religiosos e leigos, afirmam com propriedade que já tudo foi dito e feito sobre tudo. O que significa que, normalmente, uma ideia nova é nova para quem a tem, por desconhecimento de que já havia sido tida. O que não tira mérito nenhum, antes pelo contrário, já que ter ideias excelentes por si próprio, idênticas às que alguém brilhante já teve algures no tempo, é maravilhoso.

Mais tarde, é costume enveredarmos por uma profissão ou área e especializarmo-nos. Não tem de ser necessariamente especialização intelectual ou científica, pode ser na agricultura, na indústria, nos serviços. Pode, também, ser na própria opinião, seja em humanidades, com recurso a muita cultura geral e estudo específico de alguma matéria, seja em ciências naturais, engenharia ou outras. Pode, numa derivação, ser no jornalismo, que recolhe e trabalha factos e opiniões. Nessa especialização, ficamos reféns do afunilamento a que nos sujeitamos que nos aporta algum saber e a consequente prudência ao enunciá-lo, pela consciência de que qualquer afirmação contém em si a necessidade de colocar balizas, reservas e exceções. 

Quanto ao resto mantemo-nos essencialmente ignorantes, numa espécie de adolescência perpétua, que nos permite ter opiniões descontraídas sobre quase tudo. A maioria de nós sem qualquer consciência disso, com a enorme vantagem da satisfação de se dizer o que se pensa, como se isso fosse em si coisa boa. Pode ser bom quando a opinião é escrita e quem a escreve pensa bem e sabe usar a pena, ou quando é verbal e quem a diz pensa bem e sabe usar a palavra. Em ambos os casos tudo assenta muito na qualidade da retórica. Quando a opinião é de um político é só isso, a opinião de um político. Pode ser aquela ou qualquer outra e terá os defeitos e as qualidades inerentes à forma como é expressa.

A propensão para a opinião, principalmente convicta e com certeza, existe na razão inversa da consciência da nossa desmesurada ignorância. “Só sei que nada sei”, como terá dito Sócrates, após uma vida de sabedoria, pela qual escolheu morrer. 

Estudar alguma coisa abre horizontes e faz-nos ver, enquanto aprendemos, o que não estamos a aprender. É como um túnel em forma de cone, que se alarga à medida que caminhamos numa linha que, na melhor das hipóteses, poderá engrossar ligeiramente.

Não me parece que seja por, eventual e inevitavelmente, poder ter adquirido algum saber que a vontade de opinar se me está a congelar. Tenho de sobra a quantidade de ignorância necessária para poder escrever ou dizer várias coisas sobre várias coisas que basicamente desconheço.

Temo que seja por intuir que há presentemente opinião em excesso e, nesse caso, podemos ao menos poupar o universo à minha. Com resultado semelhante a deixar de usar palhinhas de plástico para evitar que apareçam no nariz duma tartaruga nas redes sociais, enquanto observo a ilha de plástico no Pacífico Norte que tem uma dimensão superior à superfície conjunta da França, Espanha e Alemanha ou as crianças a correr sobre as águas de rios pobres tão cobertos de lixo que lhes permitem a proeza.

domingo, 19 de julho de 2020

A quadratura do círculo pela União Europeia



A União Europeia tem uma habilidade assinalável para fazer a quadratura do círculo.

São muitos anos de experiência, desde 1957, primeiro a seis, depois a oito, a nove, a doze - em 1986, altura em que se concretizou a adesão de Portugal e Espanha à então CEE - continuando a crescer até aos vinte e oito Estados-membros, atualmente 27 com a saída do Reino Unido. Ao aumento da abrangência é inerente o aumento da diversidade e a dificuldade de obter consensos e, mais ainda, regras que os consagrem e operacionalizem nos diversos territórios.

A coesão europeia, a existência de uma mancha geográfica com alguma dimensão e um mercado significativo, foram fulcrais nos anos após a Segunda Grande Guerra. Permitiram dar sequência, na realidade, à paz alcançada no terreno e criar condições para a recuperação económica que a poderia sustentar. Unidos passaram a Guerra Fria, várias crises de várias naturezas e, atualmente, procuram enfrentar a que parece estar e vir a ser a crise das crises, originada pela Pandemia de Covid-19.

Há que realçar que a União Europeia é uma espécie de milagre político e económico que merece admiração, reconhecimento pelos esforços permanentemente em curso e pelos resultados que se vão alcançando. 

Muitas vezes, tal parece ser possível, mais pelo efeito dissuasor do argumento catastrófico, que pela vontade de a manter. Sente-se uma espécie de condenação a conservar o conjunto, porque sozinhos os países ficariam mais pobres, mais vulneráveis, menos influentes. Uma Europa unida continua a ser fundamental, mais ainda quando a geopolítica global está a mudar radicalmente. É importante que no Ocidente, um grupo minimamente coordenado de países possa ter condições de contribuir para o precário equilíbrio mundial. Embora a força que julgam ter, com reminiscências da revolução industrial e de impérios perdidos no século XX, os faça sentir mais fortes e importantes do que, restringidos aos seus territórios não coloniais e à sua relativamente limitada tecnologia, realmente são. O que não retira força à necessidade de, mesmo com o não muito que resta, ser mantida alguma relevância no novo mapa-mundo-universo.

Posto isto, constata-se que após rondas intermináveis de negociações é, por vezes, conseguido um ou outro acordo sobre intenções vagas, enunciadas em estratégias, orientações, livros de várias cores, discursos que os anunciam como algo muito importante, já que se pretende invariavelmente o reforço do mercado comum, através da afirmação dos valores europeus, sempre com o respeito pelos direitos fundamentais e a dignidade da pessoa, bem como o crescimento, simultaneamente sustentável e enorme, em livre concorrência. Tudo com uma enorme solidariedade, compreensão e entreajuda. 

Agora estão a negociar pacotes e medidas para o cataclismo viral. Oxalá consigam. Oxalá todos consigamos.

Essencialmente, é isto. Seja qual for o tema em causa, é mais ou menos isto. 


sexta-feira, 17 de julho de 2020

Rights for AI?


“Does AI - and, more specifically, conscious AI - deserve moral rights? In this thought exploration, evolutionary biologist Richard Dawkins, ethics and tech professor Joanna Bryson, philosopher and cognitive scientist Susan Schneider, physicist Max Tegmark, philosopher Peter Singer, and bioethicist Glenn Cohen all weigh in on the question of AI rights.”

From “Latest News from the Petrie-Flom Center” at Harvard Law School: Glenn Cohen - who began serving as a Deputy Dean at Harvard Law School - participated, with some of the best thinkers on AI, in a reflection on “Does conscious AI deserve rights?” (Big Think video here).

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Teach AI the right values



Picking some highlights: 
Many AI decisions are “based on the biases it has learned from us, from the humans”. “We are also reinforcing our bias in how we interact with AI”. For instance,.personal AI voice assistants, like Siri, Alexa, Cortana, are women and designed to be our obedient servants.
We can teach the right values to AI.
“This is our chance to remake the world into a much more equal place.”.