Todos os dias, literalmente todos os dias, eventualmente várias vezes, cai mais um bastião daquilo que mantinha o ser humano único, autónomo, no controlo de si próprio e da realidade que o rodeia, excluindo naturalmente catástrofes ou outros acontecimentos imprevisíveis e intrinsecamente incontroláveis.
Um estudo realizado na Queen Mary University de Londes, publicado no Plos One, em 3 de fevereiro de 2021, divulga o trabalho de cientistas que propõem uma nova maneira de detetar emoções através de “wireless signals”, mais concretamente ondas de rádio.
É muito útil, porque permite identificar emoções lendo diretamente os pensamentos, o que serve para vários fins de que se destacam a deteção de discrepâncias entre o que se diz e o que se pensa.
Em 1949, foi publicado Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, de George Orwell, que já continha o essencial sobre o assunto de um ponto de vista macro e político. Não há muito a acrescentar. A aplicação do conceito aos vários contextos em que o ser ainda humano se move, social, familiar, religioso, laboral, judicial, e todos os outros em que possamos pensar, é por si só a evidência do que está em causa. Quando à pergunta “Achas que esta roupa me fica bem?”, seja dada a simples e educada resposta esperada “Fica ótima.”, várias crises se perspetivam oriundas da leitura do pensamento que se conteve. Se as perguntas forem feitas em contexto judicial, o problema pode ser mais grave ou, pelo menos de consequências diferentes. No campo religioso, dado que Deus já possui essa faculdade, as questões ficam circunscritas ao terreno. Noutros campos, outras consequências ocorrerão.
A comunicação direta entre cérebros, no que poderá ser denominado Internet of Brains (IoT), já causava perplexidade bastante, como pode ser lido aqui, mas parecia implicar ainda algum controlo sobre o pensamento que se transmitia.
Neste artigo
do The Machine, podem ler-se outras aplicações ou variações nesta temática,
nomeadamente no que diz respeito aos Brain Computer Interfaces (BCI), que podem ser
externos sob a forma de uma espécie de capacetes e que permitem coisas tão
fúteis como corridas de drones diretamente comandados pelo pensamento, ou tão
extraordinárias como a possibilidade de alguém privado da fala poder simplesmente
pensar nas palavras que quereria dizer, sendo estas proferidas por um
dispositivo criado para o efeito.
Estes BCI também podem ser internos, sob a forma de implantes
no cérebro, coisa que Elon Musk, na Neuralink, uma das suas várias bilionárias empresas
está a desenvolver, com o objetivo de possibilitar que o pensamento humano
possa ser aumentado e minimamente competitivo com a inteligência artificial. O que, julga-se, será acessível a quem o possa pagar.
Enfim, tudo isto existe, tudo isto não sei se é triste, e tudo isto aparenta ser fado. Vamos ver no que dá, quer queiramos, quer não.
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