Os bons livros de ficção contêm em si sínteses extraordinárias, difíceis de
encontrar noutros recipientes, com a exceção, normalmente menos bela, dos
provérbios populares.
Deparei-me agora com uma pequena pilha de livros que foram saindo das
prateleiras por alguma razão e foram ficando empilhados numa desarrumada
arrumação durante muito tempo. Peguei neles e ia distribuí-los pelas respetivas
secções a que pertencem, seguindo o critério relativamente vago e muito
flexível das minhas estantes.
A questão é que quando isso acontece, isto é, quando pego em livros que li
há muito tempo, com a intenção de os transportar de um sítio para outro,
dificilmente resisto à tentação de os abrir ao acaso, passando os olhos por
alguns parágrafos. O que se lhe segue é ser invadida pelo espanto, encher-me de
um “como é que é possível pensar/escrever/sintetizar tão bem?”, enquanto me
encosto ou sento onde estiver, esquecida do que ia fazer.
Acabou de acontecer, com a agravante de que havia uma página com um canto
dobrado, que me propus reconduzir ao estado direito, enquanto pensava se seria
um esquecimento de marcação dum tempo em que os marcadores oficiais eram raros,
ou se estaria a assinalar algo notável.
Fiquei imediatamente esclarecida ao encontrar o seguinte:
- Que acontecimentos?
Madame Liang pôs o cigarro no cinzeiro, para poder contar pelos dedos. Começou pelo pequenino da mão esquerda e foi até ao polegar:”.
Em Pearl S. Buck, As Três Filhas da Senhora Liang, Colecção Dois Mundos, Edição
«Livros do Brasil» Lisboa, Rua dos Caetanos 22,1969, p.63. Diz também “Venda
interdita nos Estados Unidos do Brasil”.
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